As lições de mulheres empreendedoras para você lidar bem com as suas finanças

As lições de mulheres empreendedoras para você lidar bem com as suas finanças

Inspire-se nas histórias de empreendedoras que superaram barreiras econômicas, construíram uma vida financeira próspera e se tornaram bem-sucedidas em seus negócios próprios

Independência financeira, incremento de renda, flexibilidade de horário, conciliação das jornadas familiar e de trabalho, cuidado com os filhos. Estas são apenas algumas das inúmeras motivações que levam as mulheres a começarem um negócio próprio. 

Dados da pesquisa Global Entrepreneurship Monitor 2020 (GEM), realizada pelo Sebrae em parceria com o Instituto Brasileiro de Qualidade e Produtividade (IBQP), revelam que, dos cerca de 52 milhões de empreendedores que existem atualmente no Brasil, 30 milhões (48%) são mulheres.

O livro “Mulheres que transformam mulheres” (Literare Books), traz as histórias de algumas mulheres que venceram os inúmeros desafios impostos diariamente para empreender e transformar suas próprias vidas. Ouvimos algumas delas e trazemos, nesta matéria, um pouco da jornada financeira que elas percorreram para ter sucesso profissional.  Confira!

“Ao entender o ciclo do dinheiro, comecei a criar reservas financeiras”

Filha de mãe solo que trabalhava como empregada doméstica, Simone Santos cresceu ouvindo a patroa da mãe dizer que tinha que ser professora. “Para professor nunca falta emprego,”, ela dizia. Ela ouviu o conselho:  fez a formação para se tornar professora e aos 18 anos se tornou funcionária pública. 

Como mulher negra, ela conta que, desde cedo, teve que se desdobrar para mostrar que merecia as oportunidades que surgiam. Além disso, precisou lidar com outros desafios. “Para quem é pobre, fazer concurso público e começar a ganhar um salário mínimo é o mesmo que ser rica. Eu tinha conta em banco, cheque, cartão de crédito. E adivinha o que acontece com uma pessoa com todas essas possibilidades de consumo, sem educação financeira? Me endividei completamente já no primeiro ano de trabalho”, relembra.

Nascida e criada no Rio de Janeiro, a pedagoga diz que a virada de chave aconteceu quando ela se deu conta de que gastava o salário todo antes de receber o pagamento. Aos 30 anos, com mestrado e atuando como professora, ela percebeu que a vida que levava não era condizente com o salário que recebia.“Eu era convidada a dar aulas aos sábados em municípios distantes e, antes de receber, já havia gasto todo o dinheiro com unha, cabelo, transporte, alimentação.”

A partir do exemplo da mãe, que tinha a renda como empregada doméstica, mas vendia cocada e fazia sanduíche para ter outros recursos, ela traçou estratégias para complementar seus ganhos: vendia um tabuleiro de bolo de cenoura por dia para pagar a condução até o emprego. 

“Quando eu entendi o ciclo do dinheiro – ganhar, gastar, poupar, doar e investir – eu comecei a fazer uma reserva e com parte dela comprei um carro à vista.” A outra parte do dinheiro foi usada para empreender em uma consultoria para mentoria de prosperidade e liderança feminina. “Investi em formação, na minha participação em eventos e em divulgação. Comecei fazendo trabalhos gratuitos para tornar meu nome conhecido e, depois, passei a aceitar convites para palestras e cursos remunerados”, conta.

Simone conta que os dois primeiros anos do negócio próprio foram bastante difíceis, mas ela persistiu. “Minha outra fonte de renda como servidora pública me ajudou a permanecer empreendendo. Nos primeiros anos, a gente investe muito mais do que tem retorno e eu ainda não alcancei o patamar que eu desejo, mas continuo investindo para isso.”

Autora de três livros, ela conta que viu na organização do livro “Mulheres que transformam mulheres”, a oportunidade de inspirar pessoas a partir de histórias reais de empreendedoras  que transformaram a vida de outras mulheres. “Quem tem origem humilde, muitas vezes, se vê limitado a seguir um único caminho. Mas você pode ser professor e ter um negócio próprio, por exemplo. A gente não precisa caber numa caixinha só.”

Para Simone, investir em educação financeira é libertador. “A maioria dos brasileiros vive atolado em dívidas porque não tem conhecimento e vive a ilusão de que com cartão de crédito pode fazer tudo. Isso é uma armadilha que limita nossas vidas pelo excesso de contas a pagar. Eu descobri que com inteligência financeira eu posso realmente ter o que eu desejo e realizar os meus sonhos, só que de forma planejada. Conhecimento é libertação”.

O direito como instrumento para mudar a vida financeira das mulheres

Desde cedo, Bruna de Sillos escolheu a advocacia por acreditar no direito como uma ferramenta para a cura das dores na vida das pessoas. “Os problemas familiares, as questões patrimoniais, principalmente das mulheres, sempre me interessaram bastante”. 

Após um período na Espanha, onde estudou direitos humanos com recorte no gênero feminino, Bruna voltou ao Brasil e atuou em diversas organizações sociais, entre elas a Teto.  Nessa jornada, ela se interessou ainda mais pela temática da mulher a partir da observação de situações cotidianas e por sentir na pele a desigualdade entre homens e mulheres. “No mercado de trabalho, histórias de machismo e opressão por companheiros ou chefes vão tornando as mulheres menores do que elas poderiam ser.”

Sempre focada na questão de gênero, em 2019, Bruna resolveu empreender seu próprio escritório usando as economias que fez durante o período em que trabalhou como empregada. “Juntei dinheiro para me manter durante seis meses enquanto captava meus próprios clientes”. Em menos de um ano, seu escritório alcançou a sustentabilidade financeira. “Sempre apostei nas parcerias e indicações para conseguir meus clientes e, só depois de algum tempo, investi em site e posts patrocinados em redes sociais.”

Em seu escritório, do departamento financeiro ao de recursos humanos, todas as funcionárias são mulheres. Advogando, ela percebeu os impactos que gerava na vida das pessoas. “Em divórcios, a mulher consegue ter todos os direitos garantidos, que em outra situação ela não conseguiria. Em um inventário, com uma boa representação, ela assume um cargo de inventariante, por exemplo.”

Professora, Promotora Legal Popular e membra da Rede Feminista de Juristas, a advogada dedica seu tempo para atender mulheres de forma humanizada. “Praticamos a escuta ativa: as mulheres contam suas histórias e, a partir daí, a gente entende e percebe outros problemas que elas mesmas não tinham se dado conta antes.” 

A violência patrimonial, reforça, é a privação de um direito da mulher e se manifesta das mais distintas maneiras: há casos em que o companheiro usa recursos sem consultar a esposa, subtrai ou omite bens no momento do divórcio e a mulher acaba saindo prejudicada. 

Esse trabalho, diz Bruna, trouxe novas perspectivas e o entendimento da responsabilidade que você tem nas mãos. “Hoje eu faço a gestão de uma empresa que muda a vida de várias pessoas, então eu tenho que me especializar, fazer o planejamento do meu negócio a curto, médio e longo prazo e correr atrás das habilidades necessárias para atingir os objetivos.” 

Ninguém segura uma mulher com autonomia financeira

Andy de Santis começou a trabalhar como educadora financeira na equipe de sustentabilidade de um banco privado de São Paulo, em meados dos anos 2000. Lá, foi convidada a desenvolver um treinamento sobre o tema para os funcionários da instituição. “Achava que o bancário, por ser um profissional que trabalha com finanças, não se endividaria”, conta ela, relembrando o quão ficou surpresa com o pedido.

Estudando psicologia econômica, ela descobriu que  a questão financeira é muito mais comportamental do que instrumental. “A pessoa pode saber fazer conta, mexer em calculadora financeira, montar planilha no excel, mas isso não garante que ela terá uma boa relação com o dinheiro”, explica.

Mestre em educação, pós-graduada em Finanças e Marketing e graduada em Comunicação Social, Andy é autora de diversos livros didáticos sobre educação financeira e, há alguns anos, fez uma mudança de rota: saiu do banco e montou a sua própria  consultoria. 

Ela conta que, para conseguir empreender com sucesso, mais que habilidades técnicas, é preciso se planejar e aprender a cuidar das finanças do negócio. “Durante quatro anos, ainda como empregada, eu guardei dinheiro para montar um ano de reserva para garantir o pagamento das contas pagas. Então, os custos iniciais com abertura de empresa, divulgação, desenvolvimento de site, assessoria de imprensa para promover meu nome e meus livros, computador novo, tudo isso veio dessa reserva que eu já tinha feito e que já previa esses gastos.”

Uma dica importante para quem começa a empreender, segundo Andy, é ter uma conta bancária pessoa jurídica para separar as contas da empresa das contas pessoais. “Tudo o que eu recebo fica nessa conta que eu reservo para gastos com o negócio, como contador, taxas, impostos, material de escritório e contratação de eventuais prestadores de serviço. Com o valor restante eu defini um salário para mim, que eu transfiro da conta PJ para a minha conta de pessoa física”. 

Para os anos iniciais do negócio, Andy afirma que, além da reserva financeira, já havia articulado possíveis clientes e parceiros e saiu do banco já com um primeiro projeto encaminhado. “Como eu já tinha dinheiro guardado, eu pude trabalhar com calma.” 

Um projeto foi puxando outro e ela acredita que a contratação do serviço de assessoria de imprensa para divulgação do seu nome foi importante para gerar credibilidade no mercado, convites para palestras, cursos, artigos para revistas e entrevistas. “Ter uma verba para investir em divulgação é essencial”, afirma.

Para não cair na armadilha de gastar mais quando o dinheiro é abundante, segundo ela, é preciso disciplina e estabelecer um padrão de vida baseado nos meses com entradas menores. Andy conta que ficava preocupada com a fase de menor faturamento, então percebeu que precisava poupar mais quando os ganhos eram maiores. 

“De tudo que eu ganhava eu procurava guardar 20% para capital de giro. Lá atrás, eu comecei com um ano de contas pagas e hoje eu tenho três, porque fui guardando. A autodisciplina é fundamental para quem empreende.”

Ela explica que faz um planejamento anual e coloca tudo no papel: o que faturou no ano, quantos clientes atendeu, quantos projetos realizou e o valor médio por projeto. “Esse mapeamento me ajuda a ver quanto eu fiz de dinheiro em um ano e traçar uma meta para o seguinte, já com os planos do que preciso fazer para alcançá-las.”

“Dinheiro é um meio para ter liberdade de escolha”

Angela de Paula começou a trabalhar aos 13 anos, como selecionadora de maçãs na zona cerealista de Palmeira, no Paraná. Filha de pai caminhoneiro, ela ajudava a vender, de porta em porta, as blusas de lã que a mãe fazia. 

Aos 21 anos formou-se em Pedagogia e prestou seu primeiro concurso público. Ingressou como educadora infantil, no ano seguinte conquistou um novo cargo em sua área de formação e, três anos depois, passou a trabalhar como escrivã de polícia, na Justiça Federal e no Ministério Público. “Aos 32 anos, fui para o Banco Central”.

Angela contabiliza 12 anos de estrada em concursos públicos, sendo aprovada em 8 deles. “Meu pai nos incentivava, a mim e a meus irmãos, a seguir esse caminho para que a gente não passasse as mesmas dificuldades que eles enfrentaram em busca de melhores condições de vida”, conta.

Em 2017, após passar por um  divórcio, ela percebeu a necessidade de complementar a renda. “Eu morava em Brasília, cidade que tem um custo de vida alto. Eu tinha que sustentar a casa e uma filha adolescente de 14 anos”. Já no ano seguinte, foi convidada a prestar mentoria para preparar mulheres para concursos públicos. 

O sucesso foi tal que Angela resolveu criar um negócio próprio focado na capacitação de mulheres para que elas também fossem aprovadas em concursos públicos. Mas, mesmo depois de ter conquistado muitos alunos e ter incrementado sua renda de servidora pública, cargo no qual atua ainda hoje, Angela teve dificuldade para equilibrar os dois pratos e separar o faturamento da empresa e sua renda pessoal. Ela conta que precisou aprender a ser empresária, já que em toda sua vida havia sido sempre servidora pública.

“Iniciar uma empresa demanda investimento. Como empreendi na área do conhecimento, de forma online, não tive despesas com aluguel de espaço. Mesmo assim, precisei contratar uma pessoa para cuidar da parte administrativa da empresa e, depois de alguns meses, um designer para fazer as peças de divulgação nas mídias sociais, aumentando o custo do negócio. Além disso, usei um pouco da reserva financeira de emergência que eu tinha e parcelei, logo no primeiro ano, um curso no valor de R$ 6 mil, que meu deu norte para expandir meu trabalho para o digital por meio da criação de infoprodutos.” 

Angela conta que de 2018 a 2022 trabalhou de forma intensiva nas redes sociais, especialmente no Instagram, divulgando seu trabalho. Nesse período teve várias alunas aprovadas em concurso público por meio de seu principal produto: a mentoria Mulheres Aprovadas, com centenas de alunas.

Com o passar do tempo e o método de estruturação e expansão de negócios validado, ela conta que começou a ser procurada por outras servidoras públicas para ensinar sobre empreendedorismo e gestão de negócios. Nesse momento, a empresa passou a também apoiar mulheres na criação de infoprodutos e a prestar consultoria no desenvolvimento de negócios que aproveitam a escalabilidade da internet.

Empreender no digital, segundo Angela, vale muito a pena, porque você mesma pode fazer tudo, se tiver paciência para estudar e aprender. “Eu cheguei a gastar mais de R$ 15 mil por mês com a equipe, pois não tinha tempo disponível. Mas logo percebi que o caminho não era esse. Contratei uma mentoria financeira, estudei marketing e produção de conteúdo e fui atrás de formação para aprender a gerir um negócio de modo a torná-lo sustentável.” 

Os primeiros anos foram cheios de tentativas e erros, mas Angela conta que o melhor de tudo foi errar rápido e com valores baixos. “Foram muitos aprendizados, principalmente sobre como tocar uma empresa. O importante, desde o início do negócio, é enxergá-lo como uma empresa, independentemente do tamanho que ele tenha. Regularizar tudo, registrar CNPJ e contratar contador para não ter problemas futuros”, aconselha.

Para ela, empreender é a forma mais rápida de se obter altos ganhos financeiros, especialmente no digital, onde os negócios são bastante escaláveis. “Também ajuda a nos desenvolvermos, pois tudo depende de nós, na nossa autorresponsabilidade em fazer o negócio dar certo.”

Fonte: Meu Bolso em dia – Febraban

Outras notícias

Especial IR 2024:  O que você precisa saber para declarar sua previdência da Ceres
Cheque especial: conheça 5 razões para você não usar esse crédito
Imposto de Renda 2024: conheça as novidades e como acertar no preenchimento da declaração
Isenção do Imposto de Renda para aposentados e pensionistas com doenças graves